Artistas caririenses lançam HQ com super-heroína cearense

Com super-heroína jovem e cearense, a produção pretender dar uma cara nova as produções culturais da região




Cultura
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Olhos felinos é a mais nova produção cultural em quadrinhos caririense. Roteirizada pela escritora Sued Carvalho e desenhada pelo artista Victor Vladimir, a HQ promete fugir dos estereótipos tradicionais das histórias de super-heróis. O lançamento acontecerá no dia 07 de abril em formato físico. 

A história narra a vida de Samila, uma garota juazeirense que mora na cidade Iguatu, onde se sente deslocada. É filha de uma mãe solteira bastante religiosa e que vê com desconfiança a introversão da filha, sempre achando que sua rebenta está “escondendo algo”.  

Em um determinado dia, voltando da igreja com sua mãe e seu irmão de colo, Samila depara-se com um gato de olhos estranhos, e, ao acaricia-lo, é agraciada com poderes sobrenaturais tais como superforça, super agilidade, garras retráteis, assim como consegue trocar de visão com o felino ao qual se conectou. Samila então torna-se a vigilante conhecida como Visagem 

Ao mesmo tempo que Samila depara-se com essa nova realidade, uma igreja começa a crescer rapidamente em público, se tornando algo bem mais grave do que aparenta. A  obra pretende criticar o crescimento da presença das igrejas neopentecostais na política da região. 

A edição será feita com o selo do coletivo Satirika, um grupo de escritores e quadrinistas de esquerda da região do Cariri, que tem como proposta a criação de mais espaços de exposição e divulgação das novas propostas de arte contemporânea na região. 

Confira a entrevista realizada pelo Foobá 

FoobáEm que momento se passa a história de olhos felinos? 

Sued – Quando eu e o Victor pensamos a história, decidimos que seria muito interessante, de alguma forma, aproveitar o fato de estarmos mudando de década e refletir sobre o ensino médio e a adolescência como a vivenciamos nos anos de 2010. Então a história se passa em 2011. 

FoobáDe onde surgiu a ideia de juntar quadrinhos de super-herói com a crítica ao surgimento das igrejas neopentecostais da política? 

Sued –  Desde os anos 90 nós vemos um crescimento gigantesco da chamada bancada da Bíblia, que nada mais são do que pastores neopentecostais ou pessoas influenciadas por eles, que usam de sua influência para serem eleitos e advogarem pautas reacionárias que ameaçam o caráter laico do Estado no Brasil. 

A década de 2010 foi onde isso atingiu seu ápice […] surgindo também um personagem super-heróico de direita: O Doutrinador […] Diante de tudo isso nós decidimos que iriamos criar uma história de quadrinhos de super-herói no sentido oposto, onde tudo que contribuiu para a ascensão do fascismo no Brasil fosse explicitamente representado como maligno. 

Pode-se dizer que a Visagem, alter-ego da protagonista Samila, é uma anti-Doutrinador. 

FoobáComo foi o processo de pensar um super-heroína que fuja dos estereótipos? Quais seriam eles? 

O Cariri e o Nordeste não são mais da época do cangaço, da estética seca, isso deve ser respeitado como nossa memória, porém não deve ser o lugar comum estético dos artistas nordestinos ou de artistas que representem o Nordeste. 

Dessa forma a Visagem, nossa super-heroína, é uma mulher, adolescente, se veste como uma jovem de 2012 se vestiria e tem os dilemas de uma garota do século XXI, mas também é nordestina, não se torna menos cearense por isso. Ela é cearense, é nordestina, mas uma do nosso tempo. Confeccionamos uma super-heroína representativa para jovens nordestinos contemporâneos. 

Capa assinada por Victor Vladimir e Moezyo Lima

A obra pode ser adquirida através do Instagram @satikira_revista 

Sobre os autores 

Sued carvalho: 

Escritora e historiadora. Nascida em Juazeiro do Norte em 1995, tem três livros publicados, as Desventuras de João Basílico (2014), Pálida (2017) e Ninguém na Empresa Planeta Terra (2020).

Victor Vladmir:  

Artista visual, juazeirense, nascido em 1993, Interessa-se por quadrinhos e Cultura Pop, além das narrativas de terror. Publicou a série “Barulho na sala da frente” (2015-2017), O Voyeur cego (2016), assim como A Necessária ignorância (2017).