No próximo sábado, dia 5 de março, a pesquisadora, produtora cultural e artista interdisciplinar Sanara Rocha estará em Barbalha, região do Cariri cearense, para uma palestra ritual que debaterá a presença feminina no som dos tambores. A atividade gratuita ocorre no âmbito do Laboratório de Teatro da Escola Porto Iracema das Artes — Instituição da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM).
Com o título “Entre peles, ossos e sangue: a memória escavada no som do tambor”, o evento será realizado às 17h, no Terreiro Arte e Tradição, no Sítio Santo Antônio, em Barbalha. A atividade é gratuita e aberta ao público.
A proposta é que seja um momento de socialização e partilha de saberes teóricos e práticos, por meio de uma uma oficina percussiva. O encontro contribui para a reterritorialização de dados históricos acerca da presença feminina nos tambores, além de problematizar esse apagamento como um dos desdobramentos das políticas patriarcais.
Sanara explica que a restituição da memória feminina no tambor, silenciada historicamente, exige um grande esforço coletivo, pois diz respeito ao modo como a colonialidade de gênero opera em diferentes frentes, sempre no sentido de produzir silenciamentos, apagamentos e violência. “Meu desejo é propor uma partilha teórica, poética e percussiva que restitui a memória feminina no tambor e o poder simbólico que tais presenças agenciam o devido lugar de valor”, reforça a tutora, convidando o público a participar do encontro.
Além da ação pública, Sanara Rocha realiza, entre os dias 3 e 8 de março, a tutoria com o projeto “Incêndios da alma: sobre mulheres devotas de si”, das artistas Suzana Carneiro, Alda Maria e Mestra Socorro Alexandre, integrantes do Laboratório de Teatro da Escola.
Sobre a tutora
Sanara Rocha é feminista negra, curadora independente, artista interdisciplinar e pesquisadora com campo de atuação nacional e internacional. Dedica-se ao desenvolvimento de duas pesquisas poéticas multidisciplinares, uma que se intitula “Narrativas Fósseis” e se respalda nos estudos de gênero e no afrofuturismo a título de escavar-forjar trabalhos poéticos interdisciplinares que investigam a presença feminina no território simbólico dos tambores e problematizam o apagamento de parte dessa memória; e uma nova intitulada “Futurismo Amefricana” que se fundamenta no conceito de ladino amefricanidade cunhado por Lélia Gonzalez e teve como um de seus resultados mais concretos a criação da plataforma Futurismos Ladino Amefricanas – FLA, um espaço de aglutinação e intercâmbio de saberes entre artistas negres e indígenas latino americanos.
Sobre o projeto “Incêndios da Alma: sobre Mulheres Devotas de si”, Crato (CE)
Tendo como perspectiva o teatro performativo, propomos uma investigação nos ciclos de vida-morte-vida da mulher negra durante sua existência em um mundo estruturalmente sexista/racista. Abordar esse tema corresponde ao impacto do sistema na subjetividade feminina até os dias atuais. Temos como circunstâncias desviantes e caminho de fuga os Ritos, as Danças, os Rezos. A pesquisa pretende atear fogo em um corpo negro feminino colonizado e ir à busca de outro corpo que caiba em uma nova percepção de existência.