Estética Cultural…porque?

Alguém definiu cultura, sob o prisma individual, como aquilo que permanece após ter-se esquecido tudo o que se aprendeu. Transplantando tal conceito para o plano coletivo, poderíamos afirmar que cultura …




Estética Cultural...porque!!!

Alguém definiu cultura, sob o prisma individual, como aquilo que permanece após ter-se esquecido tudo o que se aprendeu. Transplantando tal conceito para o plano coletivo, poderíamos afirmar que cultura é o resíduo, imune à ação do tempo, dos conhecimentos – em sentido amplo – fundamentais dos povos. A cultura de determinada civilização vem a ser, portanto, o conjunto de seus valores e conhecimentos perenes.

Como se forma a cultura de um povo?

O termo cultura tem sua origem na agricultura, em razão da flagrante analogia entre as etapas do cultivo de um terreno e a formação da cultura humana. Com efeito, a cultura de um terreno pressupõe sua limpeza de toda sujeira e ervas daninhas, a aragem e o cultivo dos vegetais desejados.

A plantação deverá obedecer a determinadas regras. Será preciso plantar, antes de qualquer coisa, coisas úteis, eis que uma cultura de ervas daninha será uma falsa cultura. Ademais, será necessário plantar em ordem, de maneira que, por exemplo, cada cereal esteja separado dos demais, a fim de que possa receber o tratamento que mais lhe convém.

Algo análogo se passa com a formação da cultura dos homens e dos povos. Antes de mais nada, a boa cultura exige que se limpem as inteligências de todos os erros e falsas opiniões – ervas daninhas de nossas mentes – que comprometem tudo o que nelas venha a ser plantado. Após, será preciso “arar” nossas inteligências, habituando-as a pensar. Pois apenas estudar não significa adquirir cultura: há analfabetos mais “cultos” do que muitos eruditos. Finalmente será chegado o momento de “plantar”, ordenadamente, verdades úteis em nossa mente.

Não basta, portanto, ao ser humano estudar, mas é preciso, antes de tudo, selecionar aquilo que se estuda e se guarda, de modo a se conhecer coisas úteis. Uma lista telefônica, por exemplo, está repleta de informações verdadeiras. Todavia, nenhuma utilidade traria seu estudo. Se olharmos em torno de nós, veremos com surpresa quantos há que dispersam seu tempo e inteligência com absolutas banalidades. Além de ter por objeto coisas úteis, a formação cultural exige que se observe determinada ordem no estudo, a qual hierarquize nossos conhecimentos de forma lógica.

Assim, temos que, a cultura da enciclopédia – que posiciona os temas de acordo com sua “ordem” alfabética, e não sua importância ou encadeamento lógico – não pode ser considerada verdadeira cultura. Pois a enciclopédia, vasta e superficial, pode ser comparada com um oceano que uma formiga atravessaria com água pelas patas… Visto o processo de formação cultural – que, mutatis mutandis, se aplica também à formação da cultura dos povos – cabe responder à indagação acerca da possibilidade de existência de uma cultura de massa .

É fácil perceber, tendo em vista o ensinamento de Pio XII, que a resposta somente pode ser negativa, na medida em que a massa, por definição passiva, não é capaz de cultivar – “limpar”, “arar”, “plantar” -, por si mesma, o que quer que seja .A pseudocultura de massa não passa, na verdade, de um oceano de imposições ditadas pelos meios de comunicação, muitas vezes identicamente destinadas às mais díspares regiões e povos. Não é por outro motivo que as massas, sejam da América, Europa ou Ásia, apreciam e produzem a mesma arte, vestem as mesmas roupas, gostam das mesmas comidas. Não é por razão diversa que os estilos, as maneiras, as tradições, enfim, a cultura peculiar de cada povo vem dando lugar, em larga medida, a uma triste “standardização” universal.

Exatamente por não partir genuinamente dos povos, mas ser sempre uma imposição de cima para baixo, a pseudocultura se mostra indiferente e imune às profundas diferenças existentes, por exemplo, entre japoneses e italianos, ou entre norte-americanos e árabes: todos consomem os mesmos hambúrgueres, coca-colas  e iguaria. Todos receberam a mesma falsa e estereotipada “cultura”.

Juninho Batista – Especial para Foobá.