Morre o cearense e crítico de cinema LG de Miranda Leão

Jornalista, professor e um dos mais profundos conhecedores da sétima arte no Ceará, ele tinha 89 anos; parte sua obra foi reunida em dois livros de ensaios.




Cinema, Cultura

Morreu na manhã desta sexta-feira (2), o crítico de cinema cearense LG de Miranda Leão, aos 89 anos. Jornalista, escritor e professor, ele foi um dos mais atuantes e respeitados críticos de cinema do Brasil, que atuava na área desde os anos 50.

Segundo a família, LG de Miranda Leão estava em casa e faleceu durante o sono, nas primeiras horas do dia. A morte se deve a causas naturais. Uma semana antes, a esposa do crítico, Marlene, também faleceu. O casal deixou quatro filhos: Aurora, Astrid, João Neto e Luiz Filho.

Nascido em Fortaleza, era filho de pais amazonenses. Bacharel em Literatura Inglesa e Portuguesa, foi funcionário do Banco do Nordeste e professor da Universidade Estadual do Ceará e Instituto Brasil-Estados Unidos (IBEU). Atuou na imprensa cearense desde a década de 1950 e escreveu centenas de artigos e ensaios sobre a sétima arte. Parte de sua obra como crítico foi publicada em dois livros de ensaios.

TESTEMUNHA FIEL

Intelectual e profundo estudioso do cinema, LG de Miranda Leão dedicou-se por toda a vida à paixão pela arte das imagens em movimento. Ainda criança, testemunhou as filmagens de Orson Welles no Mucuripe (fato devidamente registrado no documentário “Cidadão Jacaré”, de Firmino Holanda e Petrus Cariry). Levado pelo pai (o cinéfilo e médico-pediatra João Valente de Miranda Leão), o menino presenciou o grande cineasta norte-americano em ação.

A partir dos olhos do autor, o universo do cinema foi destaque nas páginas de jornal do Ceará. Leão contribuiu com a publicação de livros em áreas como poesia, literatura e línguas portuguesa e inglesa.  

Seu primeiro livro, “Luiz Geraldo de Miranda Leão – Analisando cinema: críticas de LG” (2006), foi lançado pela Imprensa Oficial de São Paulo por meio da coleção “Aplauso” (organizada pelo crítico Rubens Ewald Filho). A obra homenageou os 50 anos de atuação do cearense na crítica cinematográfica.

 No prefácio do  segundo livro de LG, “Ensaios de Cinema” (2010), Rubens Ewald Filho (1945-2019) detalhou como a paixão do colega pelo ofício era uma de suas características.”Quem quiser encontrar LG, o lugar mais fácil é sempre junto à máquina de escrever ou à tevê durante a madrugada, quando se desdobra em cinéfilo e crítico à procura das informações mais precisas sobre os filmes e cineastas alvos de sua atenção”, descreveu Rubens Ewald Filho.

“APRENDIZADO SEM FIM”

“Ler um texto de LG de Miranda Leão era um aprendizado sem fim, não só pelos contornos que ele criava, mas pela paixão e generosidade que imprimia em suas extensas análises”, avalia o crítico de cinema Diego Benevides. Ele destaca o início precoce de LG na crítica e o papel que desempenhou, como figura central do Clube de Cinema de Fortaleza (CCF), importante movimento de organização da crítica cinematográfica no Estado.

“Ele era, antes de tudo, um completo apaixonado por pensar as imagens e fazer ecoá-las em textos, aulas e conversas informais. Tinha um olhar e um fôlego capazes de penetrar tanto nas mais antigas e cultuadas obras-primas do cinema quanto pelos recentes filmes comerciais, uma espécie de enciclopédia em constante trânsito. No início da minha própria trajetória como crítico de cinema, eu tive a oportunidade de editar alguns de seus textos, que sempre me atravessaram por articular com grandeza todo esse saber e é assim que ele será sempre lembrado, como um gigante”, conta Benevides.

Fonte: Diário do Nordeste