Opinião: A tristeza de um leitor com as falências das livrarias

“Livrarias fechando simbolizam uma cultura morrendo aos poucos”




Cultura, Literatura

Eu virei leitor aos 14 anos. Um pouco tarde, mas ainda foi possível ser alcançado pela literatura. Já agradeci à professora Jacira por ter dividido a leitura do conto “A Liga dos Cabeças Vermelhas”, do Sherlock Holmes, em duas aulas de Literatura, quando eu estava no 9º ano. Parar em um ponto crucial da história e ter que esperar até a semana seguinte para saber o desfecho foi o suficiente para despertar em mim a vontade pela leitura – e a leitura de suspenses, que nos anos seguintes foi disparado o gênero que eu mais li.

O fato de eu ter trabalhado na loja do meu pai entre os 15 e os 18 anos ajudou também, porque eu ficava lendo lá, um livro após o outro, pegados na biblioteca da escola e depois da Biblioteca Pública Municipal depois que eu zerei o estoque de suspenses da escola. Foi nessa época que eu descobri Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, Dan Brown, entre outros autores do gênero.

Em 2022, completei 15 anos de leitura, com pouco mais de 200 livros lidos (sim, eu tenho uma planilha, não me julguem) e posso dizer que a leitura transformou a minha vida. Só quem lê sabe o quão mágico é esse mundo e quão bem ele faz; quão bom é viajar para ouros universos e esquecer da vida enquanto lê páginas após páginas sem lembrar do mundo real.

Pois bem, agora que vocês me conhecem um pouco, posso dividir a tristeza que sinto ao ver tantas livrarias fechando – sendo a Cultura a mais recente, mas temos ainda a Saraiva em recuperação judicial e outras centenas de livrarias de rua que fecharam as portas Brasil a fora nos últimos anos. Livrarias fechando, principalmente essas de rua, que não são Megastore, que vendem só livros, simbolizam uma cultura morrendo aos poucos.

Livros estão extremamente caros, com isso a grande massa não consegue mais comprar. Gourmetizaram a leitura e quem se lascou nessa foi o pobre leitor – no sentido literal e no português bem simples. Ao contrário do que acontece hoje, deveria haver incentivos para que as pessoas lessem: livros a preços populares, mais palestras, mais rodas de conversas sobre leitura.

É preciso mostrar, para essa geração cada vez mais conectada, o poder da literatura. E mais: o poder da mágica que é você pegar um livro físico em mãos, sentir aquele cheiro, às vezes até mesmo ser abordado na rua por algum outro leitor que já leu aquele livro ou aquele autor. É preciso mostrar o poder de um momento em um mundo off-line.

Tudo isso exige, é claro, esforços de vários lados, e por mais que eu tenha esperanças, não vejo uma luz no fim desse túnel tão cedo. Esse texto é mais um desabafo, de coração aberto; uma carta para aqueles leitores que, assim como eu, ficam triste por ver a leitura tão renegada nos últimos anos.

Sim, há e-books, há e-readers, há Kindles, há Kobos, há Wattpad. Mas assim como a TV não substituiu o rádio, eles não substituem a magia do livro físico; a magia de uma criança, um jovem ou um adulto descobrir um livro legal vagando por uma biblioteca ou, quiçá, pelas finadas livrarias…