“Transfabuladores”: estudantes da Escola Iracema das Artes lançam coletivo de escrita

Grupo reúne participantes do Percurso Transfabulações – Experiências Ficcionais, do Programa de Formação Básica, realizado entre os meses de outubro de 2021 e janeiro deste ano




Cultura, Literatura

Reunir experiências criativas plurais, da capital e do interior, por meio do diálogo entre quem entende a escrita como ato de transformação. É com essa perspectiva que nasce o Coletivo Transfabuladores. A iniciativa é composta por participantes do percurso “Transfabulações – Experiências ficcionais”, realizado entre os meses de outubro de 2021 a janeiro deste ano na Escola Porto Iracema das Artes — instituição da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM).

Formado por 16 autores, o grupo é diverso e reúne escritores cearenses com experiência e iniciantes. Os participantes têm formações em diversas áreas, como filosofia, antropologia, história, arquivologia, cinema, fotografia, educação, comunicação e meio ambiente.

O percurso “Transfabulações — experiências ficcionais” integra o Programa de Formação Básica da Porto Iracema. A formação é uma experiência ampliada da oficina “Fábulas de Janeiro”, ministrada pelo escritor Joca Terron e realizada tradicionalmente no período de férias. Com curadoria de Joca, a primeira edição do percurso contou com escritores renomados da literatura contemporânea brasileira.

Paulo Scott, escritor e um dos orientadores do Percurso, destaca o engajamento dos participantes em seus projetos literários. Para ele, iniciativas coletivas como o Transfabuladores fortalecem a cena local de arte e literatura. “Sem isso não se faz uma cena – e sem uma cena forte a produção de uma geração [de um local] não ganha o mundo da forma que ganharia se houvesse uma cena forte/fortalecida”, avalia.

Rede de afetos e de criação 

Mara Beatriz, jornalista e integrante do Transfabuladores, ressalta que a ideia de formar um coletivo surgiu a partir da formação na Escola. “Foi durante a aula de um dos módulos. Os professores pediam para que nós lêssemos os nossos textos e assim fomos criando uma amizade, a partir da escrevivência de cada um”, conta.

A abordagem temática, assim como o coletivo, é plural, percorrendo temas da realidade à ficção. “A proposta é se jogar no mundo mesmo com diversos gêneros [literários]. A gente pegou o mote que veio de não ter nenhum tipo de restrição em relação à estrutura, forma, ao conteúdo e nem ao objeto que é trabalhado”, explica Mara.

Como coletivo, esses artistas pretendem dar continuidade à criação literária por meio da produção, leitura e curadoria coletiva de textos. Além de concorrer a publicações via editais, concursos literários e realizar oficinas e palestras em espaços culturais públicos.

Produtora cultural e integrante do coletivo, Carliane Capitu, fala sobre o impacto da organização coletiva para a produção cultural no Ceará. “É importante pra gente descobrir esses novos territórios que podemos ocupar na nossa cidade e no interior”, comenta.

ewa niara, multiartista e pesquisadora, fala da importância de compor o Transfabulações. “Hoje se tornou mesmo uma rede de apoio, sabe? E eu vejo que, assim, enquanto uma travesti preta, favelada, que vem realmente de outras lógicas fora das estruturas de arte padrão, é muito [importante] para mim e para o meu trabalho”, avalia.

Sobre o Transfabulações

O percurso “Transfabulações – Experiências ficcionais” foi dividido em seis módulos: “Literatura desfazendo gêneros”, “Tradução como procedimento de escrita”, “Poesia e visualidade”, “Imaginar a memória: antropologia e criação literária”, “É preciso falar, não é preciso calar” e “Narrativas públicas”, além de ciclos de orientações de escrita intercalados em cada módulo. Teve a participação de Ronaldo Correia de Brito, Ingrid Fagundez, Paulo Scott, Amara Moira, Stephanie Borges, Julia Debasse, Diego Vinhas e Marco Severo.

Totalmente online e gratuito, o ciclo formativo aconteceu de outubro de 2021 a janeiro de 2022, com a oferta de 30 vagas e a adoção de políticas afirmativas, destinando metade das vagas para residentes do interior do Ceará e pessoas autodeclaradas pretas, pardas, indígenas, quilombolas, com deficiência, travestis, transexuais e transgêneros.